Este foi dos anos em que mais trabalhei na vida. O plano de aprender C de verdade andou muito pouco e agora está oficialmente 2 anos atrasado. Sobrou pouquíssimo tempo ou energia para fazer as coisas que gosto, incluindo as que são mais ou menos relacionadas com o trabalho.

Numa tentantiva de me sentir um pouco menos mal e mais vivo, comecei a anotar as coisas que consegui fazer ao longo do ano. “Mas Luiz, tem certeza de que você quer produtivizar seu lazer?”, ouço meus 3 e meio leitores dizerem. Sim, tenho. Não é sobre metas, é sobre culpa, capitalismo tardio e auto-terapia de quinta categoria.

Quando comecei este post, percebi que escrevi algo muito similar para o ano de 2024 e nunca publiquei. Se chamava “O que sobrou de vida em 2024” e ficou dormindo no repositório até agora. Decidi juntar aquilo lá com isto aqui, então vamos em frente com um tipo torto de retrospectiva bienal.

Se você suportar até o fim, lerá também uma tentativa de resoluções para 2026.

O que li Link to heading

Em termos de gênero, fiz o de sempre: uma mistura não muito planejada de livros técnicos (nem sempre ligados ao trabalho), política e ficção – que na minha seleção costuma ser bastante política.

  1. O problema dos três corpos - Cixin Liu
  2. Fortaleza digital - Dan Brown (🤣)
  3. A estrada - Cormac McCarthy
  4. Mundo perdido - Michael Crichton
  5. Camarada - Jodi Dean
  6. Sete anos de escuridão - You-Jeong Jeong
  7. Tempo esquisito - Maria Rita Kehl
  8. Querida Konbini - Sayaka Murata
  9. Terráqueos - Sayaka Murata
  10. Inspired - Marty Cagan
  11. Trabalho efetivo com código legado - Michael Feathers
  12. A devoção do suspeito X - Keigo Higashino

Foquei bastante em limpar umas prateleiras de ficção duvidosa e tive algumas surpresas agradáveis, ambas do leste asiático. A tensão das obras de Sayaka Murata e You-Jeong Jeong, embora muito diferentes entre si, me causaram um misto muito efetivo de estranhamento cultural e desgraçamento mental. Muito, muito boas.

Para o trabalho, li pela terceira vez na década o livro do Feathers. Segue brilhante, mas à medida que os problemas que lido mudam, as lições que tiro dele também mudam. Também resolvi encarar “Inspired”, por indicação do pessoal que entende de gestão de produtos, numa tentativa desesperada de entender algo sobre a posição que assumi no trabalho em 2024. Não entendi tanto assim, mas entendi que gestão de produtos não é algo que eu queira pro resto da minha vida (isso deve contar, certo?).

Li pouco sobre política neste período, ao menos em formato de livros. “Camarada” é incrível, no entanto. Para 2026 pretendo ler mais no tema, já que cometi alguns excessos no estande da Boitempo e da Autonomia Literária, este ano na Festa do Livro da USP. Por falar na Festa do Livro, a quantidade de ficção do leste asiático acumulada se deve a excessos cometidos no estande da Estação Liberdade na festa de 2023.

O que joguei Link to heading

Não vou elaborar muito sobre o que joguei, aqui. Se quiser mais detalhes, notas e às vezes uma mini-resenha, eu deixo tudo mais ou menos registrado no perfil do Backloggd. Segue uma lista simples em ordem cronológica.

  1. Final Fantasy XV - Royal Edition
  2. Final Fantasy 20th Aniversary Edition
  3. Drakengard 3
  4. Tales of Xilia
  5. Lucky Luna
  6. Farm RPG
  7. Hades
  8. Subnautica
  9. The Quiet Man
  10. One Strike
  11. Shephy
  12. Frederic: Resurection of Music
  13. Quarantine Circular
  14. Her Story
  15. Immortality
  16. Teleforum
  17. Bloodstained: Curse of the Moon
  18. Kaze and the Wild Masks
  19. Skies of Chaos
  20. Journey
  21. Return of the Obra Dinn
  22. Dragon Age: Inquisition
  23. Donkey Kong Country
  24. The Witness
  25. Hollow Knight: Silksong

Como pode-se perceber, um caos de jogos muito velhos com “meu deus, saiu Silksong hoje, vou jogar imediatamente”.

O que ouvi Link to heading

Apesar de ter ouvido primariamente Jazz nos últimos anos por conta de meus estudos de guitarra, desde 2024 voltei a ouvir Metal com mais frequência. Revisitei muita coisa, descartei coisas que não envelheceram bem pra mim ou que não me interessam mais (tipo Dream Theater), passei a gostar de sub-gêneros que nunca tinha dado uma chance e descobri bastante de uma nova geração de bandas. Dói um pouco ser fã de gente mais nova que você, confesso.

É muito CD e muito streaming para dar conta de registrar tudo que ouvi em um mês, o que dizer de dois anos inteiros. Também não quero falar de coisas que já conhecia e redescobri (como o primeiro do Black Sabbath). Segue então os albuns que considero destaques do que descobri nestes últimos dois anos, em ordem de “ouça este primeiro, se puder”:

  1. Hiromi - Electrifying Piano (Jazz)
  2. The Warning - ERROR (Rock)
  3. Silibrina - Sonambulando (Jazz)
  4. Josyara - Mansa fúria (MPB)
  5. Spiritbox - Tsunami sea (Metal)
  6. Svalbard - The Weight of the Mask (Metal)
  7. The Novelists - CODA (Metal)
  8. The Contortionist - Language (Prog)
  9. Isis - Panopticon (Prog)
  10. Namika - Nador (Pop)

Deixei os gêneros propositalmente vagos, pois me interessa cada vez menos ser muito específico. Ouvi também muita coisa brilhante em albuns bem mais-ou-menos ou em formato de single. Esses vão ficar para outro momento de indicação.

E daqui pra frente? Link to heading

Seguindo minha tendência recente de ficar mais offline, menos imediato e mais assíncrono, quero me dedicar bem mais à leitura - em especial os livros políticos. Não, não é “detox digital” nem “autocuidado”. Só acho que a internet deu errado e tenho menos vontade de ficar nela. Gosto da ideia de “entrar na internet” e rejeito a ideia de que isso não existe mais. Sobre livros, vou considerar uma derrota não conseguir ler o que comprei neste ano na Festa do Livro da USP. Uma derrota meio garantida, vamos ser honestos.

Também há um backlog imenso de jogos que já tenho, pois costumava aproveitar “promoções imperdíveis”. Além da culpa natural de deixar jogos pegando poeira, a qualidade do catálogo me deixa com vontade constante de começar algo novo. O problema é que só consigo jogar quando estou mentalmente descansado, uma condição que tem sido rara. Vou tentar organizar uma lista de prioridade, para não passar o dia escolhendo o que jogar e no fim não escolher nada, como já aconteceu algumas vezes. Um método apresentado no video mais recente sobre backlog de jogos do excelente Daryl Talks Games parece ser um bom começo (o vídeo não é sobre isto e é espetacular, diga-se).

Quero também estudar mais coisas de computação que não têm relação direta com meu trabalho, especialmente programação de hardware, emulação e conceitos de sistemas operacionais além do que aprendi na faculdade com o Tanenbaum. Quem sabe finalmente aprender eletrônica (projeto e fabricação).

Sobre escrever mais neste blog, já me prometi e falhei tantas vezes, que desta vez nem vou tentar. Vamos vendo o que acontece.